domingo, 25 de maio de 2014

Mamãe!

Podem dizer que eu estou atrasada, mas hoje é dia das mães na Suécia. O porquê de a data ser diferente aqui me escapa completamente, mas essa na verdade é só uma desculpa para escrever um texto que há semanas já se formava na minha cabeça, lentamente, envolvido pela saudade que a cada dia é maior.Só nesse ano, já passei dois dias das mães (o brasileiro e o sueco) longe da minha mãezinha e morrendo de saudades.



Por isso, antes de qualquer coisa, antes de escrever do último mês que passei viajando, antes de tentar articular qualquer pensamento coerente pelas minhas experiências, quero falar sobre a pessoa que tornou isso tudo possível: minha mãe.

Sei que o dia das mães, com todos os seus diferentes significados que já foram assumidos na história, é muitas vezes visto como uma data meramente comercial, uma boa oportunidade de negócios para floristas, chocolaterias, e até algumas propagandas machistas que perpetuam um ideal de maternidade que está muito longe das mulheres de carne e osso que são mães. Sei que mães vêm em todos os tamanhos, temperamentos e tipos. Que, para além dos laços biológicos, existem milhões de mães de coração, avós, madrinhas, tias e vizinhas, amigas, colegas de trabalho que são as verdadeiras mães. Que alguns homens também são como mães. Que essa palavra, "mãe", é tão antiga e cheia de significados que ela já não significa mais nada de essência física. Por isso quero falar não sobre o que as mães são, genericamente, mas sim sobre o que mamãe é, essa mulher de carne e osso e do espírito mais forte que eu já tive o prazer de encontrar nessa vida.

Mãe. Mamãe. Mammi. (ou o famosíssimo MÃÃÃÃÃÃÃÃE). Só falar a palavra na minha cabeça já me desperta uma miríade de sentimentos que eu não consigo exatamente colocar em palavras, então nem vou tentar. Só sei que ela é minha mãe, seja lá o que isso significa para o mundo, mas para mim, tem alguns significados muito fortes.



Antes de mais nada, é uma mulher forte, poderosa, com aquele tipo de autoridade que surge do cuidado e do amor, daquela força imensa que não precisa da violência e dos gritos. E não falo só da autoridade em casa, mas sim do exemplo de ética do trabalho, de uma liderança firme e amorosa, de uma dedicação incansável, apesar de todos os desafios. Desde pequena aprendi com ela que não é preciso seguir o estereótipo do "macho alfa" para ser uma líder excelente. Não preciso gritar, falar alto, humilhar: a força e a firmeza estão na convicção, e não na altura da voz. É ela quem me diz que ser uma líder é servir, e é isso o que eu vejo quando ela chega tarde do trabalho, cansada, mas nunca aceitaria fazer diferente disso, porque simplesmente é o certo a fazer.

Qualquer pessoa ou grupo que tente dizer que as mulheres devem se sentir culpadas ou incompletas por trabalharem fora (porque na casa já trabalham de qualquer jeito), por sair da esfera privada, estão redondamente enganados. As consequências emocionais que sofri por minha mãe trabalhar todos os dias foram o respeito pela ética de trabalho, a seriedade em todas as tarefas que me são dadas, a dedicação àquilo que me proponho a fazer - e, principalmente, que nenhuma realização acontece de graça, e que tudo o que vale a pena precisa de disposição e sacrifícios.

Mas foi com ela também que eu aprendi que tudo isso não se conquista sendo uma estátua de mármore, pura de racionalidade mas de frieza, e sim com o coração e com a intuição.Ela que me ensinou que cada ser humano é infinitamente valioso, e que se deve tratar as pessoas bem não pelas vantagens que elas podem nos dar, mas sim porque cada um é uma alma, um mundo inteiro à parte. Que educação e sorrisos sinceros abrem portas. Que minha intuição é preciosa e deve ser escutada, que nosso conhecimento humano é só um pedacinho de tudo o que existe no universo. Que a natureza, as florestas, as flores, os mares, que não são só belos mas também sagrados, que respirar fundo na quietude da floresta nos enche de energia nova.

Ainda há algumas coisas que não tomaram raíz na minha cabeça, eu confesso - não consigo ter o cuidado meticuloso com a aparência que você tem, e minha forma de organização, eu sei, parece o mais puro caos aos seus olhos, mas estou aprendendo, estou tentando - quando não seguindo suas orientações, construindo meus próprios caminhos para atingir seus valores.

Ela me ensinou também, da maneira mais dolorida, que não há tapa ou berro que seja mais dolorido do que ouvir "estou decepcionada com você", e que haverão vezes que estar machucada por dentro vai fazer você querer machucar os outros, e isso é uma coisa contra a qual devemos lutar.

Mas também foi ela que me ensinou, da forma mais doce, que quando não temos mais nada nessa vida, quando parece que tudo está acabado, sempre vou ter o amor e o amparo da família, e lá minha mãe, pronta para me confortar como uma garotinha, não importa a idade.



No relacionamento lindo que ela tem com a própria mãe, também me ensinou que mãe não é só para crianças: os conselhos, o colo, o carinho vão estar lá por toda a vida, seja pessoalmente, por telefone ou por skype. Com 23, 30 ou 50 anos, ainda é "mamãe", ainda é um porto seguro em todas as coisas que mudam na vida...

...mas também ensinou que, enquanto passava de menina a mulher, o papel da mãe também muda, de autoridade para conselheira, de protetora para um apoio mútuo. Isso nós aprendemos juntas, e continuamos a aprender enquanto cada nova fase da minha vida se desvela. Terminar o colégio, e agora a faculdade. Dirigir, estudar, trabalhar...

Essa lição é particularmente difícil agora, mãe, quando fico pela primeira vez mais do que um mês longe de você. Eu achava que o difícil de morar no exterior fosse limpar o quarto e lavar as roupas e lembrar de pagar as coisas em dia, mas a verdadeira dificuldade é ficar longe da família. Sei que nós duas temos rotinas frenéticas, mas só aqueles poucos minutos de dizer bom dia e boa noite, aqueles momentos à noite, quando conversamos antes de ir dormir, fazem toda a diferença nesse país que é frio de corpo e alma...

Mas a distância, ao invés de apagar, só renova o meu carinho, meu amor e minha devoção a essa mulher que, mais do que a amorosa figura que me colocou nesse mundo, é um exemplo de profissional, de líder, de mulher.

Mesmo de longe, mando todo o meu amor para você, hoje e sempre.


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